Itaú e a Autocustódia - Um retrocesso na liberdade financeira?
Itaú e a Autocustódia - Um retrocesso na liberdade financeira?

No organismo descentralizado da criptoeconomia, onde cada wallet representa uma célula soberana e cada transação pulsa como um batimento de liberdade, uma nova inflamação se alastra — silenciosa para alguns, tóxica para outros. O epicentro dessa disfunção simbiótica atende pelo nome de Itaú, o maior banco da América Latina, que ao declarar que "não poder sacar criptoativo é uma evolução", desencadeia um processo de rejeição que atravessa tecidos ideológicos e pragmáticos do ecossistema cripto.
Essa declaração, feita em um evento de tecnologia e inovação, carrega o peso de uma mutação regressiva. Em vez de estimular a regeneração autônoma das finanças pessoais, o Itaú busca recentralizar o metabolismo financeiro, oferecendo criptoativos como se fossem produtos de prateleira farmacêutica — embalados, controlados, injetáveis sob prescrição. Mas o que está em jogo aqui não é a simples oferta de tokens como USDC, SOL ou XRP. É a amputação de um princípio fundamental da criptoeconomia: a autocustódia.
A autocustódia não é um detalhe técnico. Ela é o código genético da liberdade cripto. Sem ela, não há soberania, não há resistência, não há descentralização real. Uma carteira externa é a membrana celular do indivíduo simbiótico — seu direito de existir no ecossistema sem depender da permissão de terceiros, sejam eles governos, bancos ou plataformas.
Ao restringir saques para carteiras externas, o Itaú se posiciona como um anticorpo disfuncional dentro de um sistema que exige fluidez. Ele oferece cripto, mas nega o caminho para sua plena funcionalidade. É como um organismo que fornece oxigênio mas proíbe a respiração. O discurso da "evolução" torna-se, portanto, um biomarcador de captura: a mutação não é progressiva, é adaptativa ao interesse centralizador.
Enquanto isso, no lado saudável do ecossistema, a autocustódia floresce como uma simbiose entre autonomia e responsabilidade. Usuários conscientes gerenciam suas próprias chaves privadas, protegem seus ativos com cold wallets, participam de DAOs, stakeiam tokens em protocolos não-custodiais, interagem com DEXs, e constroem uma musculatura financeira que não depende da boa vontade de um gerente bancário.
A ação do Itaú, sob a roupagem de "educação" ou "segurança", revela-se um movimento de dominação simbiótica: toma-se um conceito libertador e adapta-se para um ambiente controlado, onde a liberdade é substituída por acesso supervisionado. O cliente não é dono do que possui — é apenas usuário temporário de um ativo que permanece tecnicamente sob custódia da instituição.
Essa prática contradiz a própria natureza do Bitcoin, cuja filosofia repousa na ruptura com os intermediários. "Not your keys, not your coins" não é apenas um slogan — é uma linfa ideológica. Remover a possibilidade de saque é como amputar um membro vital do organismo descentralizado e substituí-lo por um implante corporativo com firmware proprietário.
E mais: ao oferecer stablecoins como USDC, o Itaú se aproxima perigosamente de um ecossistema que exige interoperabilidade, mas entrega bloqueio. A ironia é que o USDC pode ser enviado globalmente em segundos, mas dentro do Itaú, ele vive em uma bolha isolada, impedido de circular como glóbulo digital livre.
É claro que há riscos na autocustódia. Há perdas, há phishing, há vulnerabilidades humanas. Mas esses riscos fazem parte da maturação do organismo simbiótico. São parte do processo de fortalecimento. Evitá-los por completo em nome da “evolução” é como privar o sistema imunológico de contato com bactérias — enfraquece, atrofia, infantiliza.
A estratégia do Itaú revela outro fator preocupante: o desejo de domesticar o ecossistema cripto para fazê-lo caber em planilhas de compliance. É o mesmo padrão de controle aplicado às redes sociais, aos dados pessoais, ao próprio dinheiro fiduciário. A liberdade que assusta é moldada, condicionada, pasteurizada.
Mas o organismo cripto não é domesticável. Ele reage. Ele cria alternativas. Ele se regenera. Protocolos como Uniswap, MetaMask, Arbitrum, Ledger e ThorChain não pedem autorização. Eles existem, fluem, interagem. São tecidos independentes. E é nesse contraste que a estratégia do Itaú se mostra não apenas limitada, mas obsoleta.
O risco real é o precedente. Se essa narrativa de que a autocustódia é desnecessária ganhar força institucional, outras entidades seguirão o mesmo caminho. Exchanges centralizadas poderão bloquear saques. Provedores de infraestrutura poderão exigir KYC para qualquer wallet. E assim, bloco a bloco, perderemos o que nos tornou simbióticos: a soberania granular.
O trabalho das criptomoedas é devolver o valor à fonte que o gerou. É criar sistemas vivos onde o indivíduo tem peso, voto, participação. Onde um camponês em Gana tem o mesmo acesso a um protocolo DeFi que um trader em Nova York. Onde não há barreiras invisíveis disfarçadas de inovação.
A declaração do Itaú precisa ser lida como um sinal de alerta. Um marcador tumoral no tecido financeiro. Uma anomalia que revela a tentativa de manter o controle numa era que pede interdependência e liberdade.
Neste organismo simbiótico chamado criptoeconomia, quem nega a autocustódia não está promovendo evolução — está tentando impedir a regeneração.